No Dia Mundial da Alimentação, comemorado nesta segunda-feira, dia 16, resultados parciais de uma pesquisa promovida pela Comissão para a Política de Segurança Alimentar Nutricional Sustentável (Comissão SANS) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) chamaram a atenção. De acordo com os dados parciais quase 30% dos alunos de graduação e colégio da instituição informaram passar fome.
Segundo a professora Maria Rita Marques de Oliveira, coordenadora do Centro de Tecnologia e Inovação para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional da Unesp (INTERSSAN) e integrante da Comissão SANS, o resultado é muito preocupante. “Apesar dos resultados serem preliminares, quase 30% dos alunos referirem estar com fome, chama muito a atenção, pois é um dado maior do que encontrado na população brasileira”, explica a pesquisadora.
Cerca de 3.330 pessoas responderam o questionário que foi enviado no e-mail institucional de docentes, alunos e funcionários. Maria Rita reforça que é importante que as pessoas que ainda não participaram respondam a pesquisa. “Já se trata de uma amostra representativa, mas é importante que todos participem, já que o número de alunos é superior 53 mil”, garante.
Maria Rita reforça que os dados são preliminares, precisam ser mais bem estudados e a amostra ampliada. No anuário estatístico da UNESP (2022), consta uma comunidade composta por 53.578 estudantes, 8.287 docentes e servidores ativos, espalhados em 24 cidades do Estado de São Paulo.
A Comissão Sans informa que os dados pessoais são sigilosos e não serão divulgados. Os resultados vão subsidiar decisões sobre infraestrutura, benefícios e atividades culturais e educativas.
O tema deste ano do Dia Mundial da Alimentação, que foi instituído pela Organização Mundial para a Alimentação e Agricultura (FAO), é “Comida, Água, Direitos e Equidade: Celebrando o Dia Mundial da Alimentação 2023”.
Dados da Fome
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que em 2021 29,3% da população global (2,3 bilhões pessoas) apresentavam Insegurança Alimentar (IA) moderada ou grave, dos quais 11,7% (923,7 milhões de pessoas) apresentavam IA grave (5).
No Brasil, em 2020, os resultados de uma pesquisa independente realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), pela mesma agência que vem realizando as pesquisas da FAO mostraram que 19,1 milhões de brasileiros conviviam com a fome. Em 2022, numa segunda avaliação realizada também pela Rede PENSSAN, essa estimativa cresceu para 33,1 milhões (15,5%) de pessoas que não tinham o que comer. Se somadas a experiência com a fome em suas formas leve, moderada e grave, no Brasil em 2022 a fome atingiu a cifra de 33 milhões de pessoas. Os dados de 2022 indicaram ainda que 30,7% da população não consegue adquirir uma dieta saudável, reflexo da redução das oportunidades de emprego e renda, mas também das altas nos preços dos alimentos.
Dados da pesquisa na Unesp
Entre os estudantes de graduação e colégio, apenas 19% não manifestaram preocupação com a segurança alimentar, 30% estão preocupados com a estabilidade de suas refeições, 22% manifestam que por falta de recursos não se alimentam adequadamente e 29% afirmam que experimentam a fome. A experiência com a fome cai para 11% dos pós-graduandos, 1% dos professores e 3% dos servidores.
Quanto à qualidade da alimentação, avaliada pelos marcadores de consumo alimentar com foco no ingestão de vegetais como indicador saudável e ultraprocessados (ricos em gordura, sal e açúcar) como marcador de alimentação inadequada, apenas 15% dos estudantes de graduação e colégio relatam valores ótimos, frente a quase a metade dos docentes.
Também se verificou que a obesidade é um agravo encontrado entre todas as categorias, porém mais acentuado entre docentes e servidores. Apenas 37% dos docentes apresentam um índice de massa corporal (medido pelo peso/altura ao quadrado, em metros) dentro dos valores recomendados pela organização mundial da saúde (18,6 a 24,9kg/m2), 42% estão com excesso de peso ou pré-obesidade (entre 25 e 29,9kg/m2), 20% já apresentam obesidade (acima de 30kg/m2), a magreza encontra-se em 1% dos docentes. Esses dados são compatíveis com os encontrados pela pesquisa Vigitel para o Estado de São Paulo em 2021, mas não deixam de ser preocupantes.
Outro dado que chama a atenção e é o percentual de 8% de magreza entre os estudantes. Nos dados nacionais esses valores giram em torno de 3 a 5%.